Bom dia, tudo bem? Mais um texto para iniciar esta nova semana…que seja repleta de boas energias…….e sempre uma excelente música de fundo, como bem escreve nosso colaborador e amigo do Sebo Paulistano, Rodrigo Vinicius
UM BOTÃO DE FLOR NO SILÊNCIO MUSICAL
A música move a vida. A música é a vida. A organicidade da vida, sua dialética, seu próprio ser e respiração são música. Toda a história humana tem sido marcada pelo desvelamento do Ser através do movimento do vir-a-ser. Desde a antiga civilização sumeriana, passando pelos assírios, os egípcios, os hebreus, os hindus, os chineses, os gregos, os romanos – a música tem sido reverenciada como expressão sagrada do Absoluto, que a seu modo realiza sua melodia interna formando constantemente a existência. Cada povo teve um vislumbre do aspecto metafísico que sinaliza e revela a verdade do ser e a seu modo tentou traduzir essa visão, deste modo surgiu o conceito de teoria como – “olhar sobre o divino”. É importante notar que a raiz indo-europeia de divino é –div, ou seja, luminosidade, claridade. Razão pela qual os filósofos gregos discutiram sobre a Physis, a floração, pois o conceito de physis repousa sobre a raiz de iluminação, de luminosidade, de claridade. A natureza como um fenômeno luminoso, o desabrochar de uma iluminação.
Hoje sabemos com os estudos da física, da biologia, da genética, que a música traz consigo uma força de floração. Música, que conceitualmente vem da palavra grega – musa – revela, desnuda, põe o ser no crescimento orgânico da vida. As partículas do oxigênio, por exemplo, os nêutrons e prótons vibram numa escala melódica maior; que o verde vivo que vibra nas florestas ergue seu busto de beleza infinita dançando em sua fotossíntese uma melodia de estrutura trítônica; que a sexualidade é um fenômeno musical e o nascimento tem em seu movimento gestacional um ritmo.
Toda a vida moderna começou a desmoronar com a queda do sistema da física clássica, isto é, o modelo cartesiano e newtoniano, o qual tratava de mensurar o tempo e o objeto na sua extensividade, como um corpo do mundo macro. Einstein, Planck, Heisenberg, Born, Bohm, Schrodinger – uma plêiade de sábios revolucionou a ciência moderna com a o desenvolvimento de uma percepção apurada da realidade, concebendo relações a nível atômico, pondo em questão o movimento corpuscular e as leis que regem o universo visível e invisível. Desde o surgimento do conceito de quantum e o florescer da física quântica o olhar do observador voltou-se para o campo do infinitamente pequeno. A matéria perdeu sua densidade e se revelou um aglomerado de átomos ou mônadas cuja função atômica colapsada gerava energia, reformulando constantemente sua estrutura; a matéria é energia organizada do ponto de vista vibracional; energia como vibração, energia, conceitualmente significa mover-se internamente.
A teoria se fez carne. A bomba atômica provou ao mundo que a equação einsteiniana estava correta. Ou seja, que a energia é igual a matéria condensada ao quadrado. Logo energia pode ser condensada e a matéria pode ser rarefeita. Oppenheimer, o físico, logo ao ver o resultado da bomba atômica ficou desnorteado e entoou um trecho da obra indiana, o Bhagavad-gita, a canção do venerável, a saber, “Agora eu me tornei a morte.”. A força avassaladora desperta no interior do átomo era um orgasmo da energia. O estrondo vulcânico de um despertar.
Na antiguidade o poder energético da música era reverenciado. Os mestres faziam uso da música como forma de suscitar curas, para despertar e educar a mente, o corpo e o emocional. Sua torrente elétrica despertava o êxtase, uma espécie de Big-Bang interior, uma atmosfera criativa, ondas e cascatas de infinita beleza. Para adentrar o reino puro do espírito o silêncio cantante da vida promove no ser humano o nascimento da consciência. O fruto a ser gestacionado na lide da vida é embalado nas ondas silenciosas de uma música interior.
Não apenas o som é cantante.
As cores cantam. A pedra canta.
A água canta e o pássaro canta.
Todo o jardim um coro sagrado.
O que a contemporaneidade perdeu foi a sensibilidade profunda. A poluição sonora, visual tem entorpecido a audição, a visão, mas acima de tudo a mente e o emocional. O turbilhão mental e emocional impede o homem de dançar junto ao silêncio cantante da vida. Deste modo a música tornou-se o delírio de uma sombra. Não apenas a música perdeu a qualidade sonora e técnica, simplificando-se do ponto de vista de sua estrutura, ou melhor – empobrecendo sua estrutura, mas também perdeu sua função consciente na sociedade. Atualmente apenas um oásis desta antiga tradição ainda vive no ocidente – a música-terapia, que tenta resgatar uma sabedoria universal, assim como a cromoterapia, a terapia das cores, a biodança.
A arte revelada pelas musas encontra-se engaiolada pelos dogmas ou enlouquecida pelos delírios da libertinagem. Para ouvir e ver a vida é preciso ter o ouvido e a visão do Amor. Sua poesia é tesouro oculto. Cada ser humano é convidado a contribuir com sua melodia. Não apenas Beethoven, Mozart, Bach, Chopin, Haydn, Pachelbel – foram músicos. Cada um de nós é uma nota na partitura da natureza. Cada um de nós é um músico em potencial. Não apenas Sócrates, Platão, Heráclito, Pitágoras – foram filósofos. Cada um de nós é a encarnação de um pensamento. Cada um de nós é um filósofo em potencial. Não apenas Michelangelo, Picasso, Da Vinci, Modigliani, Rafael – foram pintores. Cada um de nós é um traço no quadro da natureza. Cada um de nós é um pintor em potencial. Não apenas Cristo, Buda, Zaratustra, Lao-Tsé – foram divinos. Cada um de nós é Um só. Cada um de nós é o seu próprio centro iluminado, um PARAÍSO EM BOTÃO.
Um forte abraço e excelente semana
Helton
Sebo Paulistano. Sua livraria digital. Seus livros usados na internet.