Olá, tudo bem? Você tem dúvida que a Filosofia pode mudar sua maneira de pensar?
Segue mais um excelente texto de Rodrigo Vinicius para o Sebo Paulistano.
O Absurdo de Sísifo
Defronte uma sociedade gangrenada por inúmeros desiquilíbrios psicológicos que se repercutem em todos os cantos o homem do século XXI vive o absurdo, como dizia Camus, que apregoava ser o “absurdo a doença psicológica da modernidade.”. Representado na obra “O Estrangeiro”, ou em “A Queda”, o absurdo da vida moderna se alastrou para a contemporaneidade como uma “Peste”.
Na obra “O Mito de Sísifo”, Albert Camus reflete sobre o absurdo da vida representado pela figura mitológica de Sísifo, condenado a carregar eternamente uma pedra ao cume da montanha, para vê-la rolar em seguida ao pé da mesma e novamente recomeçar seu trabalho absurdo de levar a pedra ao cume.
Então num lampejo de sobriedade Camus se pergunta: será a questão fundamental da filosofia a de definir se vale a pena viver a vida? Camus ainda se perguntará se – defronte o absurdo o caminho seria o suicídio. Diz ele, “Não, mas, sim, a revolta.”. O homem deve se revoltar diante da alienação da vida de consumo, hedonismo, da indolência dos sentidos, levado como num barco a ilha do seu ego.
Para Camus a resposta contra o absurdo deve ser a Revolta Metafísica.
Analisando através de Heidegger, Karl Jaspers, Kierkegaard e Husserl, Camus observa o modo como dentro da filosofia o absurdo tem sido tratado, do ponto de vista do suicídio filosófico. Há uma busca desesperada e persistente por novos valores. Como dizia Nietzsche – com a morte de Deus se faz necessário a criação de novos valores. A morte do Deus moral pelo desenvolvimento da razão narcísica leva ao colapso do mundo absoluto dos valores, transformando-o em relativo, elástico, líquido, como foi muito bem conceituado por Bauman.
Qual o caminho do homem em meio a essa escuridão?
Todos os grandes escritores e pensadores da modernidade diagnosticaram o processo de colapso dos valores, lançando-os ao abismo. Para citar alguns dos forjadores da modernidade ocidental – Freud, Marx, Nietzsche, Kafka, Dostoiévski, Kierkegaard, cada qual representando nuances desse processo em suas obras. Para Camus, no entanto, Kafka é sem sombra de dúvidas o “Profeta do absurdo”. Basta ler a “A Metamorfose” e o “O Processo”, principais obras de Kafka, para compreender do que se trata o absurdo.
Para Camus a mudança do mundo se deu na representação do mundo metafísico para o mundo moral, muito bem representada nas extremidades reflexivas e agônicas dos personagens de Dostoiévski, como, por exemplo, em Ivan Karamazov, Raskólnikov, Kirílov.
Reduzidos a perda da unidade metafísica, do mundo absoluto de Deus, vagamos como condenados a uma vida de absurdo. Buscamos uma reconciliação com o mundo poético de Eros, o Amor, que vai aos poucos se perdendo num mundo onde o ser humano se tornou objeto, uma mercadoria.
Um resgate da potência orgástica, apregoada por Wilhelm Reich, a busca de compreender o corpo e sua energia, segundo Alexander Lowen, o movimento da dança em suas forças expressivas, tão bem desenvolvida por Rolando Toro – são alguns dos caminhos forjados para o restabelecimento da potência de Ser no homem. Um movimento denominado pelo primeiro-ministro da África do Sul, em 1926, Jan Smuts – holista, definido como – “A tendência da Natureza, através da evolução criativa, é a de formar qualquer “todo” como sendo maior que a soma de suas partes”, resgatando um princípio da metafísica de Aristóteles e fundando o movimento holístico. Holístico vem da palavra grega holos, que significa – inteiro, todo.
Assim como Smuts resgata a ideia de um todo orgânico em um processo de evolução criativa, James Lavelock resgata a ideia grega de Gaia, ou o Sistema de Gaia, desnudando um processo integral, no qual, Gaia, a Terra, é uma rede complexa de relações criativas e integrativas, da qual faz parte o ser humano.
Qual o lugar do ser humano no cosmos?
Uma coisa fica clara no correr do século XXI: chegamos ao limiar do Novo. A vida segue seu processo criativo avassalador. Num mundo líquido, relativo, onde o homem é convidado a ser criativo, responsável, consciente – as perguntas encontram seu lugar, para que as respostas sejam mais do que palavras, mas, sim, o evento de SER no mundo sua própria realização. Não estamos aqui para responder perguntas, mas, sim, para suscitar no processo criativo sua seiva, pôr em movimento o que jaz parado, pois toda resposta se fecha sobre si mesma, criando uma estagnação, um breve movimento, que se encerra no seu próprio organismo, mas a pergunta se abre feito uma flor e seu aroma pode penetrar no coração do homem e leva-lo pelos ares de uma revolta, de uma liberdade nova. Pode ser borboleta a voar no verão.
Homens, uni-vos! Homem encontre sua bailarina Consciência! Aprendei a amar a vida e a não temer a morte. Seja um aventureiro do Espírito. O homem é uma possibilidade. Entre o abismo do absurdo é o homem um equilibrista suspenso sobre o abismo e sua boca devoradora.
Um forte abraço e um excelente final de semana
Helton
Sebo Paulistano. Livros, usados. Seu sebo online.