Bom dia, tudo bem com você nesta qunta-feira?
Mais um texto do nosso amigo Rodrigo.
SER UM INDIVÍDUO NO MAR DE MÁSCARAS
– Uma Aventura no século XXI
“Na realidade, não conhecemos nada, pois a verdade está no íntimo.”. – Demócrito, filósofo grego do século V a.C.
“Por mais que eu procure a verdade nas massas, encontro-a apenas – quando a encontro – nos indivíduos.”. – Delacroix, pintor francês do século XIX.
Demócrito e Delacroix refletindo sobre a verdade adentraram domínios de uma realidade demasiado sutil. O que é a verdade? Como encontrar a verdade?
Essas perguntas são fundamentais do ponto de vista da metafísica e na mística, mas também do ponto de vista da política. Hoje, como nunca, observamos como a verdade, não a verdade metafísica, mas a consensual, é fabricada na política, nas religiões, nas universidades, através dos meios de comunicação. A verdade passou a ser o acordo da massa. O que deter a maioria das vozes ganha uma autoridade como se verdadeiro. Por isso Sócrates criticava a DEMOCRACIA, pois a democracia pressupõe uma sociedade de homens conscientes, justos, sábios e que possam, portanto, deliberar sobre os caminhos da cidade. A DEMOCRACIA matou Sócrates; A DEMOCRACIA matou Jesus. A sociedade sempre será uma massa inconsciente contra o indivíduo. E por individuo estou a dizer o que Demócrito percebeu: o átomo. Unidade não divisível. É claro que a física hoje já sabe que o átomo pode ser dividido em sub-átomo. A questão, no entanto, é saber que há a UNIDADE. A sociedade vive e respira através do egocentrismo e do narcisismo coletivo. No narcisismo/egocentrismo a percepção psicológica é fragmentada e autocentrada. Na individualidade a percepção é integrada e concentrada no TODO. Há a singularidade. É interessante que a palavra átomo tem parentesco com a palavra indiana – atman, que significa alma.
Vamos observar como a multidão oculta a verdade na dimensão do inconsciente.
Tem um trecho de Charles Dickens, esse gênio da literatura, que demonstra muito bem a questão da democracia e a multidão. Aparece na obra “As Aventuras do Sr. Pickwick” –
“Nesses casos, é sempre melhor fazer o que faz a multidão.” “E se existirem duas multidões?”, perguntou Mr. Snodgrass. “Grite com a mais numerosa”, respondeu Mr. Pickwick.”.
A multidão é um mar raivoso que pode ser incitado. Einstein disse uma vez – “que basta os meios de comunicação incitar para que a multidão seja tomada de loucura.”. Outra voz a clamar sobre tal monstruosidade foi Thomas Browne escritor inglês do século XVII que dizia com propriedade:
“A multidão: esse enorme pedaço de monstruosidade que, considerada a partir de seus elementos, parece feito de homens e das criaturas sensatas de Deus; mas, considerada como um todo, forma uma enorme besta e uma monstruosidade mais horrível que HIDRA.”
Hidra é uma figura mitológica que possuía inúmeras cabeças. No autoconhecimento ela representa a dimensão da Mente, onde um mar de vozes clama e vive, como uma enorme população. Por isso o dramaturgo inglês Massinger escreveu –
Serve e treme
A fúria do monstro de muitas cabeças,
A vertiginosa MULTIDÃO.
Na multidão não é possível haver Consciência. E o homem busca a multidão por que se sente mais confortável acompanhado. Isso vem da infância, de quando a criança percebe sua fragilidade, sua dependência paterna e materna, razão que faz dela um joguete nas mãos da família. O drama da criança é justamente ela ser manipulada pelo desejo dos pais. Essa manipulação vai conduzir ela a ser inconsciente. No fundo toda multidão é um aglomerado de pessoas infantis que estão assustadas e necessitam de alguma autoridade que venha de fora. Por isso os políticos, professores, sacerdotes, artistas, esportistas – tem apelo sob a massa. Elas buscam uma autoridade moral, política, de conhecimento, que dê a ela um sentido existencial. Não importa qual seja esse sentido. A massa não pode buscar por si mesma; somente um indivíduo pode. E as figuras de autoridade sabem disso e por isso cobram obediência servil. Tal como os pais fazem com as crianças. É um vasto processo de infantilização.
Hitler e o nazismo são fruto desse processo.
A aventura de ser um indivíduo no meio do mar de máscaras (pessoa vem do termo grego persona, que significa a máscara do teatro) consiste na busca pela VERDADE originária do SER. Delacroix percebeu que a verdade só pode ser encontrada no indivíduo e essa percepção é notável. Só que ainda mais notável é a percepção de Demócrito, pois ele foi mais fundo. Ele descobriu que a VERDADE é uma INTIMIDADE. Ela não pode ser dada a você. Você não pode vendê-la ou compra-la. Não pode sequer fabricá-la. Só há um caminho: o encontro. É como o rio que encontra o mar. Mas lembre de que no encontro não haverá EGO. Quem pode dizer onde termina o rio e onde começa o mar? No encontro entre rio e mar ambos se tornam uma TOTALIDADE. Uma totalidade não é uma massa disforme. Não. É um DESABROCHAR.
Por isso desde a antiguidade grega que a BELEZA, representada por AFRODITE desperta no mar leitoso. É um símbolo. Por isso EROS, o AMOR em algumas variações do mito é filho de AFRODITE. Há uma intensa e sutil realidade sendo dita no mito.
Sócrates dizia que a BELEZA e o AMOR são os caminhos para o SER, que ele representava como o SOL. Mas esse sol metafísico não está fora, mas na INTIMIDADE DA VIDA, EM TODAS AS COISAS.
A aventura de ser indivíduo no mar de máscaras passa por nos apercebermos das máscaras que nos foram dadas, das máscaras que criamos para nós mesmos e então começarmos a dançar na vida como um dançarino que se desnuda, e não como um dançarino que se envolve e se perde nas máscaras. Deixar cair as máscaras é o começo do autoconhecimento.
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