Boa Tarde, tudo bem? Reservamos este excelente texto do nosso já conhecido Rodrigo Vinicius (já viram o canal dele? Só clicar aqui)
A literatura e suas diversas melodias….
POESIA COMO AVENTURA E LINGUAGEM CÓSMICA
A literatura é berço fecundo onde se manifesta o espírito humano. Nele sua força criativa se levanta da lama e sobejo traz à luz sua pérola, seu diamante. Gostaria de trazer ao lume deste dia a poesia, para que possa ser apreciada, resgatada, conhecida. Niels Bohr, o físico, disse – “O comportamento do átomo só pode ser compreendido através de uma linguagem poética.”.
É brilhante e bela a imagem. O átomo tijolo básico da constituição cósmica é poesia. Gostaria de lhes mostrar algumas poesias. É preciso cultivar e aprender a ouvir o silêncio da poesia. Seguem-se trechos destas joias da literatura.
NOITE DE VÍGILIA
Estou só dentro da noite
Debaixo das estrelas.
E me vem a ideia
De que os muitos sóis e planetas de sóis
Que giram lá no alto
Ao redor uns dos outros
Em sistemas rebrilhantes,
São outros tantos átomos
De um imenso corpo.
Do poeta Ole Sarvig – “Noite de Vigília” evoca o olhar perscrutador que toca o mistério do universo e contaminado por sua beleza se torna filósofo e poeta. Lembra-nos de outro grande poeta, o americano Walt Whitman, que diz:
Na praia, sozinho, à noite
Quando a velha mãe balança para frente e para trás,
Entoando sua canção vigorosa,
Quando assisto à brilhante estrela que cintila,
Reflito sobre a chave dos universos e sobre o futuro.
Uma vasta similitude engrena todas as coisas,
Todas as esferas, as desenvolvidas, as mirradas, as pequenas,
As grandes, os sóis, as luas, os planetas,
Todas as distâncias de lugares, não importando quão longínquos,
Todas as distâncias do tempo, todas as formas inanimadas,
Todas as almas, todos os corpos viventes embora tão diferentes,
Ou de mundos diferentes,
Todos os processos gasosos, aquáticos, vegetais, minerais,
Os peixes, as criaturas,
Todas as nações, cores, barbarismos, civilizações, línguas,
Todas as identidades que existiram ou possam existir
Neste globo ou em qualquer globo,
Todas as vidas e mortes, todo o passado, o presente, o futuro,
Essa vasta similitude os abarca, e sempre os abarcou,
E há de abarca-los para sempre e solidamente envolve-los e contê-los.
A força da vida que envolve na sua dimensão ABSOLUTA o TODO surge com inúmeras formas, cores, texturas, cheiros, mas também no corpo de ideias, pensamentos, emoções e sentimentos. Uma expansão constante da sua imobilidade móvel. Por isso ensina a física que o BIG BANG é em si uma holografia, pois TUDO ESTÁ EM TUDO e a energia que se expande se revela ocultando nas contradições. Por isso o comportamento do átomo só pode ser conhecido poeticamente. A poesia é o simulacro onde as contradições se harmonizam.
Ernesto Cardenal, poeta hispano-americano, escreveu um belo e vasto poema chamado – “Cântico Cósmico” e que desabrocha como uma flor atômica:
No princípio nada existia
Nem espaço
Nem tempo
O universo inteiro concentrado
No espaço do núcleo de um átomo,
E ainda antes menos, muito menor que o próton,
E muito menos ainda, um infinitamente denso ponto matemático…
Esse denso ponto matemático como um círculo que recria sua forma concêntrica em múltiplos círculos, formando na sua vibração dimensões, aspectos de uma vasta EXPERIÊNCIA, o ZERO ABSOLUTO – ou o oximoro.
Nietzsche, Schopenhauer, Goethe, Heidegger – alguns dos maiores pensadores e escritores de língua alemã compartilham a mesma percepção de que a Arte é a linguagem do SER. Em Nietzsche e Schopenhauer a arte se representa e se revela na Música, aqui entendida como clássica, com ausência da voz humana; Goethe e Heidegger através da poesia. Goethe em Fausto chega a dizer:
Ao cabo de escrutinar com mais ansioso estudo
Foro, medicina, tudo
Acho-me qual dantes
E em nada me risquei do rol dos ignorantes.
Ou seja, após o estudo compenetrado e analítico do direito, que supostamente se preocupa com a justiça, da medicina, que estuda a natureza, entre o tudo – que abarca a filosofia, achava-se ele como antes, mais um da multidão dos ignorantes.
A poesia como linguagem cósmica e como aventura existencial incentiva o homem a viver e aceitar o mistério da vida. A participar criativamente, docemente, amorosamente da vida e da morte. Por isso Sócrates no último ato na prisão quer compor uma canção. Por isso na Índia Krishna, a suprema personalidade de Deus, é um flautista dançarino. Por isso Nietzsche diz que só acreditaria num deus que soubesse dançar. Fritjof Capra narra a dança de Shiva, símbolo indiano que também significa o YIN e o YANG do taoísmo, na sua obra o TAO DA FÍSICA, desnudando como das representações poéticas intuídas e experimentadas por poetas e místicos salta uma linguagem que hoje a física pode compreender com um olhar mais abrangente e doce.
A poesia está ali, na espreita, no corpo, tomando corpo
Nos cantos e nos cantos de todas as coisas.
Experimente o seu mistério. Mergulhe na sua mansidão marítima.
A vida é você DESPERTO.
Um forte abraço e uma excelente segunda-feira
Helton
Sebo Paulistano. Sua loja de livros usados. Seu sebo online.